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PLURAL: os textos de Marcio Felipe Medeiros e Rogério Koff

Confusão sobre lugar de fala
Marcio Felipe Medeiros
Sociólogo e professor universitário

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Acompanhando nos últimos anos o debate sobre "lugar de fala", principalmente por quem se coloca contra a utilização do conceito, fica evidente uma profunda incompreensão sobre o assunto. Algo comum é confundir local de fala com "viés da preferência", que é uma falácia lógica, no qual aquele envolvido emocionalmente sobre um determinado assunto sempre irá enviesar a discussão devido a elementos emocionais presentes na discussão. Um exemplo simples de "viés da preferência" é quando um pai ou mãe analisa algo que o filho fez, e por nutrir sentimentos de carinho pela criança, reduz o peso da ação do filho se comparada à mesma situação envolvendo outra criança por quem não possui ligação afetiva.

O QUE É LUGAR DE FALA?

As trajetórias sociais construídas ao longo de nossa existência, deixam marcas e perspectivas sobre a realidade que nos rodeia, visto que somos um constructo de experiências. Isto nos dá perspectivas diferentes sobre objetos semelhantes. Quando abordamos temas sensíveis, como racismo, violência de gênero e tantos outros temas que ainda geram polêmica, o lugar de fala se apresenta como a possibilidade de trazer vozes que na maioria das vezes não encontram espaço para poderem tratar do assunto. Caso debatêssemos o tema racismo, por exemplo, e fosse do interesse entrevistar um magistrado preto, seria difícil encontrar devido a sub-representatividade de pessoas pretas nestas classes, que, embora tenha mudado nos últimos anos, ainda é bastante desigual. Em um país onde praticamente 50% da população é preta ou parda, temos um quadro de 15,6% de pretos ou pardos e 84,2% de brancos como juízes, segundo pesquisa do Conselho Nacional de Justiça. 

MUDANÇAS ESTÃO OCORRENDO

Embora o "lugar de fala" tenha sido atacado, e até mesmo utilizado de forma equivocada em alguns contextos, sua razão de ser está relacionada à preocupação em trazer para os diferentes debates pessoas de lugares distintos da sociedade, a fim de torná-los amplos e não enviesados. Em suma, lugar de fala sobre democratização do discurso, sobre expansão do direito de falar, e não sobre exclusividade de quem pode dizer algo. Cada vez mais, o princípio da pluralidade tem se apresentado, sobretudo em espaços midiáticos no tratamento de temas sensíveis. Estamos melhorando, mas ainda muito longe do ideal, já que assimetrias do peso dos discursos em função de grupo continuam existindo.

Poder e arbítrio
Rogério Koff
Professor universitário

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Não tenho qualquer formação em economia. Minha área de interesse maior sempre foi a filosofia, mais especificamente o campo da ética. Foi por aí que fui conduzido à leitura do escocês Adam Smith (1723-1790), que aparece no retrato que ilustra o artigo. Portanto, meu conhecimento de Smith começou com a "Teoria dos Sentimentos Morais", publicada em 1759. Mas sempre busco compreender a totalidade da obra dos autores. Então, precisei ler ao menos uma parte significativa de sua obra maior chamada A Riqueza das Nações, produzida em sua maturidade. Nestes livros, encontramos a conhecida tese da "Mão Invisível", na qual os homens, em sua procura por vantagens privadas, acabam produzindo uma ordem civil que permite a eles viverem de forma harmônica em sociedade. Isso vale tanto para a moral quanto para a economia.

Do liberalismo econômico de Smith até nossos dias, podemos depreender que a ordem gerada pelo capitalismo é espontânea. Se patrões desejam obter lucros, precisam pagar profissionais que trabalhem de modo eficiente. Com isso, empregos são gerados e a felicidade geral é distribuída. As teses de Smith foram elaboradas bem antes de uma nulidade filosófica como Marx inventar, no século 19, aquela baboseira de "luta de classes".

TIRANIA DOS ESPECIALISTAS

Qual é então o papel do Estado? Ele é um poder regulador, que investe em serviços essenciais como segurança pública, estradas, educação e saúde. Mas governos não produzem riquezas. De onde sai o dinheiro para investimentos públicos? Dos impostos que são cobrados sobre a atividade produtiva. Se a atividade produtiva for lesada, o dinheiro do Estado também acaba. Inclusive faltarão verbas para investimentos em saúde pública.

É exatamente esta a grande farsa promovida pelo governador do RS, que primeiro fechou o comércio, para depois proibir a comercialização de produtos "não essenciais" em redes de supermercados. Aqui se trata simplesmente de arbítrio puro, porque há impedimento de que pessoas trabalhem.

Posso ficar um ano apenas comprando itens essenciais. Não vou mais cortar o cabelo, não viajarei a lugar algum e ficarei sem jantar em restaurantes. Minha esposa pode ficar um ano sem comprar maquiagem e sem frequentar um salão de beleza. Não comprarei TV nova, geladeira ou computador em uma loja, já que todos são itens supérfluos, segundo a lógica dos especialistas do governador. Mas fica a pergunta: como as pessoas envolvidas na produção destes bens e serviços comprarão seus itens essenciais?

O capitalismo tem sua lógica interna, como demonstrou Adam Smith. Quando um poder faz uma intervenção sobre estas atividades estará rompendo um elo importante. Desta ruptura só podemos esperar desemprego e caos social. Este é o problema dos especialistas. Ficam ditando regras inúteis, que nunca deram resultado. Quais são os resultados das tentativas dos governos estaduais e municipais de controle da pandemia depois de um ano? Os níveis de contaminação só aumentaram. Os maiores tolos são aqueles que acreditam que sabem tudo.


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